Languages

jueves, 2 de junio de 2016

O plano de competição: a disciplina nos faz livres

Faz uns anos que li o livro do Xesco Espar, 'Jogar com o coração' (1), onde entre outras coisas que me fizeram pensar, vou ressaltar o que achei por um minuto uma contradição.

A disciplina nos faz livres

Depois de um pouco achei o sentido e a coerência, mas sobretudo a total aplicação no campo do treinamento esportivo. Sempre achei que o alto desempenho no slalom é uma mistura perfeita entre arte e ciência, onde precisa achar o equilíbrio para controlar o maior número de variáveis possível embora deixando espaço à criatividade. Essa nomeação do livro do Xesco é chave. Numa aplicação mais direta, me lembrei do Plano de Competição, assunto da psicología esportiva com o que me ajudou muito o psicólogo catalão Joan Vives (2)  na minha época de atleta.

Para ele, o "plano de competição é uma técnica operativa com a que cada atleta saiba exatamente quais são as rotinas que deve fazer antes, durante e depois da prova para que seu estado anímico seja o mais adequado possível". Significa que devemos programar o máximo possível o dia da prova e como vamos preparar ela. Qual é a relação entre os dois conceitos? Eu sempre achei que para competir bem precisava estar num estado de inspiração, de deixar sair as coisas que eu sabia fazer sem precisar pensar nelas, o que é chamado de estado de flow (fluir). Isso me fazia buscar um sistema para chegar nesse estado. Mas é aqui onde eu achava uma contradição "Quero fluir, deixar as coisas sair sem pensar, mas vou pensar muito em como vou fazer isso". Não dá para entender.

É por isso último que faz sentido a frase 'a disciplina nos faz livres'. Tem uma série de variáveis no dia da competição que podem virar constantes se penso bem nelas, como por exemplo:

  • Quanto tempo preciso para aquecer?
  • Quanto tempo o quantas vezes preciso analizar a pista?
  • Que partes do canal/rio/lago vou usar para aquecer, fazer minha visualização?
  • Quais são as minhas técnicas de ativação, visualização, etc?
Em definitiva, fazer uma lista de necessidades para chegar bem na largada e tentar programar como vou conseguir elas com antecipação. Se consigo responder essas e outras perguntas, estou desenhando meu plano de competição e não precisarei de tanta improvisação durante o dia da prova, o que me dá mais tempo para ser livre e ir me focando no que mais preciso, com o único objetivo de chegar na largada num estado de ánimo óptimo. Po ir metendo ele em prática em provas e treinamentos, irá evoluindo em base a como cheguei na largada e como foi a prova, e assim meu processo para competir o melhor possível irá virando mais constante e estável, podendo prestar mais atenção a coisas do mesmo dia. É obvio que cada prova e lugar são diferentes e sempre tem de ter um espaço para possíveis contingências, sobretudo com um esporte como o nosso, que depende muitas vezes do médio natural. Quanto mais alto o nível da prova, maior detalhado será o plano, já que as condições deverão ser mais constantes. Como grande exemplo serve o plano de competição do Tony Estanguet em Londres 2012 (3).



No próximo post, uma proposta de plano de competição para slalom, para que cada pessoa possa adatar nas suas necessidades.


(1) Xesco Espar: O conheci como professor de handebol na faculdade de educação física, além de ter sido treinador do primeiro time do Barça e escritor do livro Jugar con el corazón 
(2) Joan Vives: Psicólogo do esporte y desempenho, nosso psicólogo durante los anos que competi no slalom. Pode visitar o Blog dele, ou seu livro Entrenando al entrenador.
(3) Tony Estanguet: Triple campeão olímpico e um exemplo em muitos aspetos da vida. Vida narrada no seu livro Une histoire d'équilibre

No hay comentarios:

Publicar un comentario